Arte por Débora Bacchi
Texto por Everton Marcos Grison
Números, o que eles
representam? Estatísticas, para que elas são elaboradas? Aquilo que é
apresentado como a realidade corrobora a completude do real? Seria possível
definir, por meio de cifras o imensurável do que existe? O que é o real? Essas
e outras questões parecem estar permeando a obra em questão, pois a frase alude
acerca do para-além, ou seja, aquilo que não se apresenta a olho imediato.
Trata-se de uma provocação para que se olhe a similitude do que está posto,
para o além propriamente dos números, das estatísticas, das listas, das
planilhas, da virtualidade que assalta a todos de forma irremediável. O foco,
portanto, está na relação que se inscreve.
A vida aparece representada na cor vermelha da flecha. O
sangue pulsante, enquanto movimento vital, que não acontece por intermédio de
uma linearidade. A existência, a realidade mais imediatas, o ser e os objetos
que se apresentam, não estão congelados em sua ocupação de espaço. Eles se
movimentam e na obra, estão em sentido de coalização com o sujeito armado de um
guarda-chuva, que se protege da vida que tenta lhe tocar. Por que não lhe toca?
Que tipo de chuva se expressa? Não parece ser a chuva de
água, que possui diversas representações, aquela que para os mais ricos que
vivem na parte alta da cidade representa fartura, mas para os pobres do
subúrbio é o sinônimo de destruição, como se percebeu com o filme: O Parasita.
Seria a chuva de cadáveres da pandemia de Covid-19, que buscam tocar a mente de
um presidente Genocida, o qual minimiza a proporção do problema, além de
publicamente demonstrar falta de empatia e preocupação com as vidas ceifadas?
Em qual direção olha o indivíduo representado? Ele não
tem identidade definida, seu corpo não está delineado, pois pode não representar
propriamente uma singularidade humana, mas a materialização do desprezo, do
desapego, da falta de cuidado e responsabilidade, uma espécie de negação da
vida, que se protege com o guarda-chuva do “E daí?”.
Não há caminho, não se apresenta nenhuma direção, pois a
obra parece apontar para a total inoperância humana diante de um inimigo
microscópico. Também representa a ignorância daqueles que não sabem conviver
com o Outro. Trata-se, portanto, da paralisia da razão, que se instrumentalizou
ao ponto de esquecer de sua própria representação. A verdade enquanto foco
principal da razão é o cabo do guarda-chuva segurado pela insensibilidade.
Sendo assim, se não é uma crise é um Projeto.
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