Por: Jonas J. Berra
Sabe-se que ao longo do século
XX o capitalismo se tornou predominante no mundo ocidental com base em valores
liberais como a liberdade, a iniciativa privada e a competitividade. Foi a
partir desses valores que o homem ocidental foi se tornando cada vez mais
individualista e egoísta, contra os valores do coletivismo que predominava nas
sociedades tribais mais antigas. É em defesa de uma sociedade em que as pessoas
sejam menos individualistas e egoístas é que Moreira propõe uma crítica ao que
ele considera o maior problema do Brasil: a desigualdade.
Seria muito bom se a tese de Eduardo
Moreira fosse analisada por todos de um modo menos preconceituoso e mais
racional. Afinal, não se trata de um astrólogo, ator pornô ou youtuber teen,
mas um ex-banqueiro de investimento que tem a experiência real sobre um mundo
de injustiças e desigualdades.
Na obra “Desigualdade”, ele
apresenta um pouco de sua trajetória desde a saída do mercado financeiro até se
dedicar ao entendimento das comunidades que vivem em situação de vulnerabilidade
social.
Moreira propõe uma nova forma de compreender a riqueza, não
em termos de dinheiro, individualismo e exclusão, mas recursos, comunidade e
inclusão. Afinal, “vivemos no país que possui a maior desigualdade social do
mundo, com 1% mais rico concentrando a maior parcela do total da renda gerada”
(MOREIRA, 2019, p. 26).
Dentre as vantagens ou qualificações da obra está o fato de
que foi escrita principalmente voltada ao público leigo em economia. Dessa
forma, pode ser usada como uma fonte de estudos inicial. Além disso,
possibilita que pessoas dos diferentes níveis culturais leiam e compreendam
onde o autor pretende chegar com suas ideias.
Mas aí que está o “calcanhar de Aquiles” por assim dizer. O
que não é um erro, porque provavelmente tenha sido intencional. Mas Moreira não
coloca fontes bibliográficas. O texto todo parece ser um relato pessoal de sua
experiência real, juntando com teorias econômicas e sociais que para quem vem
da academia, salta aos olhos que não são ideias novas. Porém, por não ter
referências parecem ser ideias do próprio Moreira. São evidentes ideias
fundamentais de Rousseau e Marx, por exemplo. Parece uma tentativa de não se
vincular às esquerdas. O que como estratégia pode ser válida, mas que coloca em xeque a cienticidade de suas ideias, já que é muito fácil acusá-las de não
terem base teórica e não passarem de senso comum.
Essa prática de não citar e escrever textos livres, contudo, levanta uma inquietação, que é a de se parecer com o texto de outros autores,
de ideologia oposta, e que se utilizam de práticas anticientíficas por
desprezarem o saber acadêmico e as letras. O que seria muito injusto, para quem
conhece o discurso e acompanha a vida de Eduardo Moreira.
O fato de não citar grandes economistas e filósofos parece
uma técnica para pegar os iletrados desprevenidos, os fazendo ler a respeito
daquilo que já tacharam de esquerdismo. Por essa razão, é uma obra que possui um
grande mérito e pode contribuir muito com o desenvolvimento de um novo modo de pensar
a economia brasileira fora de caixinhas ideológicas.
MOREIRA, Eduardo. Desigualdade & caminhos para uma sociedade mais justa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.