Por: Everton Marcos Grison
O texto inicia o momento em que o autor marca a
página com o ponto final e dá o sopro vital necessário para que o escrito ganhe
vida própria e voe desprendido. O autor deixa de ser quem produz e passa a ser
o porta voz daquilo que é vivaz e, portanto, reclama sua liberdade e
existência. Por ser um ente existente, o texto possui suas peculiaridades,
exige um trabalho sério e espera do leitor as retomadas inumeráveis, para que a
cada novo contato o sentido vá clareando cada vez mais.
No
labor filosófico a atividade de leitura é o plano principal. É através
principalmente da leitura do texto filosófico, que se desenvolve todo o
delineamento das ideias. Sem dúvidas, cabe ressaltar que para muitos o trabalho
filosófico ultrapassa os limites do texto e se inscreve na sonoridade de uma
música, no espanto estético de um quadro ou até, na própria apreensão do
discurso oral desenvolvido de forma mais informal, mas nem por isso menos
importante.
O
texto filosófico traz consigo todo um contexto o qual está inserido e reflete
as ideias de uma época e lugar. Entretanto, parece se inscrever como texto
filosófico não apenas por representar bem uma época. O texto de filosofia vai
além de seu tempo e espaço; ele fala para as gerações futuras, os lugares ainda
não existentes e aos leitores que ainda não nasceram.
Desta
maneira, é primordial a leitura e principalmente a releitura do texto
filosófico, pois a leitura normalmente é marcada pelo desconforto da linguagem,
a dureza da constituição das ideias, muitas vezes cunhadas com dor e suor. As
ideias filosóficas também são a materialização do sofrimento e angústia de
alguém que tenta dialogar com o futuro. Para tanto, a releitura é uma forma de
honestidade com quem manchou aquela folha com as palavras, e um trabalho de
sinceridade com o próprio texto, que não se apresenta todo de uma vez na
primeira leitura. Em verdade, o texto é como o desenvolvimento de uma relação
amorosa, que geralmente não acontece prontamente de uma vez. É fascinante o
caminho, a conquista, o contato, a presença. Quanto mais presente, tanto mais o
texto se desnuda e mais nítido fica seu sentido e sua profundeza.