Por: Jonas J. Berra
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Time: 9 de janeiro de 2006. O ídolo caído |
Mas o que será que poderia ter levado a um cientista como Woo Suk Hwang a ter interesse no Brasil? Para citar um exemplo, temos uma pesquisa de setembro de 2013, apresentada pela Agência Brasil[1], em que o Brasil aparece em 14º lugar no ranking mundial da pesquisa científica. Portanto, o Brasil é visto como um país em desenvolvimento com relativo crescimento das pesquisas no campo das ciências biológicas e o mais fundamental para alguém como Woo Suk Hwang: por aqui há muitos benefícios financeiros.
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Fonte: web |
Nenhuma fraude pode ser
justificada, porém, podemos levantar hipóteses sobre as razões que levaram a
ocorrência dessa e de outras fraudes, entendendo a ideia de inovação. Segundo o
Fórum de Reflexão Universitária da Unicamp (2002), por trás da ideia de
inovação está a crença de que a exportação de tecnologias poderá reverter a
situação de miséria social de um país. No entanto, essa crença se torna
falsificada quando encontramos pesquisas na internet e percebemos que países do
norte da Europa com índices de patentes anuais pouco representativos, tem um
desenvolvimento social melhor que muitos países com altos índices de patentes
anuais. A pesquisa mostra, portanto, que “a
desigualdade social e o abandono das classes menos favorecidas no Brasil não
são consequência direta da falta de investimentos em laboratórios ou do atraso
na formação de pesquisadores” (s/p.). Além disso, temos fortes razões para
acreditar que milhares de pesquisas universitárias, que gastam milhões
anualmente, não possuem qualquer relevância para a humanidade. São pesquisas
que são levadas adiante, quase que exclusivamente, com o objetivo de manter os
financiamentos dos órgãos de fomento.
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Fonte: web. Um dos benefícios da descoberta é a obtenção de reconhecimento e fama. |
Segundo o mesmo artigo, normalmente
o cientista dá bastante ênfase à qualidade e só se lembra da relevância da
pesquisa quando ocorre a necessidade de receber algum financiamento. Mas
podemos levantar também outra hipótese: a qualidade da pesquisa está mais
associada ao financiamento recebido pelo pesquisador do que pela sua boa
vontade em ajudar a humanidade.
Se pensarmos na hipótese apresentada,
fica mais clara a razão pela qual o coreano Woo Suk Hwang divulgou resultados
positivos da clonagem das células-tronco em 2004. Segundo a BBC Brasil[4], no
final de 2005, “o pesquisador recebeu o equivalente a US$ 42,2 milhões do
governo para sua pesquisa, e US$ 4,35 milhões de fundações privadas”. Mas as
vantagens de Woo Suk Hwang não param por aí. Ele “teve selos com sua imagem. Viagens de
graça em primeira classe na Korean Air por 10 anos”[5].
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Fonte: web. Os selos. |
Agora, em 2014, Woo Suk
Hwang tem planos de trabalhar no Brasil. Ele pretende clonar cães e vacas com
objetivos comerciais e de pesquisa biomédica e biotecnológica. Segundo entrevista
concedida ao Estadão[7]:
“O Brasil tem um potencial enorme na área de
biotecnologia. Estamos conversando com possíveis colaboradores interessados,
incluindo cientistas e empresários”.
Ainda, falando do Brasil, Woo
Suk Hwang diz:
“Também quero usar minhas tecnologias de clonagem
para abrir uma nova era de pesquisa na indústria biomédica, especialmente aqui
no Brasil. Há um potencial enorme para isso aqui nos setores de bovinos e
suínos. Um dia o Brasil será o líder mundial no uso da tecnologia de clonagem
animal nas indústrias de biomedicina e biotecnologia”.
Por enquanto
o coreano está trabalhando com clonagem de cães em um
centro de biotecnologia em Seul, o Sooam Biotech. Mas é evidente que o Brasil está
no seu caminho. A partir do momento em que ele pisar em solo brasileiro, certamente os debates em torno da clonagem de animais e de embriões humanos serão retomados. Mas não será tarde para isso?
Até que ponto podemos utilizar qualquer animal, sejam cães ou vacas, como cobaias?
Até que ponto podemos utilizar qualquer animal, sejam cães ou vacas, como cobaias?
REFERÊNCIAS
[1] CRUZ, Fernanda. Brasil está em 14º lugar no ranking mundial de pesquisas científicas. Site Agência Brasil. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-09-17/brasil-esta-em-14%C2%BA-lugar-no-ranking-mundial-de-pesquisas-cientificas>. Acesso em: 22 maio 2014.
[2] ESCOBAR, Herton. Coreano quer clonar cães e vacas no Brasil. Site Estadão. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/vida,coreano-quer-clonar-caes-e-vacas-no-brasil,1167791,0.htm>. Acesso em: 25 maio 2014.
[3] Vários autores, Os desafios da pesquisa no Brasil. São Paulo: Unicamp, 2002. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/jornalPDF/ju170tema_p01.pdf>. Acesso em: 22 maio 2014.
[4] BBCBrasil. Cientista sul-coreano é indiciado por fraude em clonagem. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/story/2006/05/060512_cientistaclone.shtml>. Acesso em: 25 maio 2014.
[5] HOLTZ. Alberto. Conto do veterinário,Woo-Suk Hwang. Superinteressante. Disponível em: <http://super.abril.com.br/ciencia/conto-veterinario-woo-suk-hwang-446215.shtml>. Acesso em: 25 maio 2014.
[6] Coloquei entre aspas porque podemos levantar sérios questionamentos sobre o suposto lado benéfico da clonagens.
[7] ESCOBAR, Herton. Coreano quer clonar cães e vacas no Brasil. Site Estadão. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/vida,coreano-quer-clonar-caes-e-vacas-no-brasil,1167791,0.htm>. Acesso em: 25 maio 2014.
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