Por: Everton Marcos Grison
Theodor Wiesengrund Adorno veio ao mundo em
11 de setembro de 1903, em Frankfurt-am-Main. Seu pai, Oskar Wiesengrund, judeu
alemão, era um comerciante de vinhos e converteu-se ao protestantismo mais ou
menos na época de seu nascimento. Sua mãe, Maria Calvelli-Adorno della Piana,
era católica e antes de se casar, fora cantora de renome. Desde cedo, por
influência da mãe, que tendia para a musica, sendo aos dezesseis anos, reconhecido
como aluno talentoso, tornou-se aluno do conservatório de Hoch para aprofundar
seus estudos musicistas.
Sua formação teórica não
musical iniciou-se logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, devendo-se ao
amigo Siegfried Kracauer, quatorze anos mais velho. Durante anos os dois, aos
sábados à tarde, ocuparam-se do estudo da Crítica da Razão Pura, de Kant.
Kracauer o incitava a ver o texto não apenas como uma teoria do conhecimento,
mas possuindo uma espécie de mensagem codificada que se poderia decifrar.
Graças a Kracauer, Adorno familiarizou-se com complexos conceitos
histórico-filosóficos.
Percebe-se que desde jovem
Adorno teve contato intimo com a filosofia. Era leitor de Kant, mas teve muita
influência de Schopenhauer, Nietzsche, Marx, Hegel, Max Scheller, Max Weber e
Georg Lukács, sendo o último, a personalidade que mais influenciou a primeira
fase da Escola de Frankfurt. Já aos vinte e um anos de idade conseguiu uma
promoção em filosofia, derivada de um trabalho seu sobre a fenomenologia de Husserl.
Como membro do Instituto de Pesquisa Social desenvolveu juntamente com seus
companheiros componentes do corpo da Escola de Frankfurt, variados estudos em
pesquisa sociológica.
Desde
o inicio de suas formulações teóricas Adorno atribuiu grandioso papel as obras
de arte; elas precisavam fornecer formas “inspiradas”. Na década de 20
seguiram-se numerosos artigos, dos quais, muitos enalteciam a musica de
Schönberg, como portadora de “inspiração”. Em 1924 passa por uma crise
vivencial e quase se converte ao catolicismo, entendendo-o como modelo que
poderia reconstituir um mundo deslocado.
Faz-se
necessário um salto em direção ao final da década de trinta e inicio da
quarenta. Isso tem ligação com Adorno, pois com o estouro da Segunda Guerra
Mundial, e com os avanços e capturas das tropas alemãs, Adorno, um judeu, teve
que emigrar para outros países europeus e depois, veio a se juntar com um grupo
de frankfurtianos nos Estados Unidos.
Desta estadia americana e da
grande amizade contraída com Max Horkheimer, surgiu a “quatro mãos” um dos
maiores livros do século XX intitulado; Dialética do Esclarecimento. Os autores
se propuseram de maneira incrivelmente estilística, a retornar até o mito de
Ulisses (presente na Odisséia de Homero) e discutir a ligação do mito com o
esclarecimento. Também se debruçaram com assuntos como o anti-semitismo, e foi
neste livro que surgiu pela primeira vez o célebre conceito de Indústria
Cultural.
O livro segue o rigor
crítico se contraponto ao sistema geral de tradicionalismo, assaltando o
próprio modelo de composição dos parágrafos do texto; os parágrafos em muitas
vezes são extremamente longos justamente para contrariar o modelo tradicional
de textualidade. Neste livro os autores também colocam a razão contra si
própria, numa analise apuradamente detalhada, para demonstrar que os “avanços
benéficos” prometidos pelo “iluminismo” dando plena autoridade a razão, possuem
um caráter mitológico e nesta autoridade desmedida, um aspecto destrutivo da
condição humana.
Pode-se afirmar que a Escola
de Frankfurt era alicerçada na heterogeneidade que Adorno e Horkheimer
compactuavam sobre um assunto comum. Por um lado, Horkheimer era inspirador de
uma teoria interdisciplinar progressista da sociedade, contentando-se em ser o
acusador de um mundo burocrático, no qual o capitalismo liberal que emergia da
história de uma civilização fracassada, ameaçava desaparecer de vista. Já
Adorno entrou em cena como crítico da imanência e como advogado de uma música
liberada. Esta crítica da imanência abre a possibilidade de existência; certas
coisas existem para além do conceitual, para além da área de abrangência do
conceito e precisam ser investigadas, pois justamente por estarem mascaradas e
distantes precisam ser postas à crítica.
Em 1949-1950, apenas
Horkheimer, Pollock e Adorno retornaram dos USA para a Alemanha. Adorno deu continuidade
a sua produção teórica publicando livros que possuíam trabalhos antigos e
novos, versando em críticas musicais, estéticas e dialéticas.
Próximo de sua morte, em
1969, Theodor Adorno se envolve em uma polêmica com seu companheiro e amigo da
Escola de Frankfurt, Herbert Marcuse por não ter apoiado os estudantes que, em
31 de janeiro daquele ano, interromperam sua aula, tentando continuar, dentro
do Instituto, os protestos que tomavam as ruas das capitais da Europa. Adorno
chamou a policia.
Marcuse se posicionou a
favor dos estudantes e, em uma série de cartas, repreendeu e criticou
severamente o amigo, dizendo de maneira clara que "em determinadas
situações, a ocupação de prédios e a interrupção de aulas são atos legítimos de
protesto político”. Em 06 de agosto de 1969 Adorno veio a falecer deixando um
legado de escritos na sua maioria de relativa complexidade, mas que são instrumentos
e antídotos eficazes para se entender os complexos problemas da
contemporaneidade.
Para
começo de Leitura:
ADORNO, Theodor W. & HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Tradução
de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
ADORNO, Theodor W. Dialética Negativa. Tradução de Marco Antonio Casanova. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
DUARTE, RODRIGO. Adorno/Horkheimer & a Dialética do Esclarecimento. 2ª Ed. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
FREITAS, Verlaine. Adorno e a Arte Contemporânea. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2008.
Para conhecer mais profundamente:
ADORNO, Theodor W. Mínima Moralia. Tradução de Gabriel Cohn. Rio de Janeiro: Azougue,
2008.
ADORNO, Theodor W. Teoria Estética. 2ª Ed. Edições 70, 2008.
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